Rio gelado: solidariedade aumenta para aquecer pessoas em situação de rua nos próximos dias com previsão de frio intenso

Como era previsto, a frente fria chegou nesta quarta-feira ao estado do Rio de Janeiro derrubando as temperaturas e trazendo na bagagem chuva. Na mudança brusca que deve ficar entre as menores do ano, a corrida contra o tempo é para acolher e aquecer pessoas em situação de rua. O clima mais úmido, com a chuva que deve se alongar pelo menos até amanhã, e os ventos mais fortes vão abaixar a sensação térmica ainda mais nas madrugadas que têm risco de chegarem a 9 graus na capital.

Organizações sociais não-governamentais e grupos formados por voluntários afirmam que o número de pessoas vivendo nas ruas têm aumentado. Para acompanhar o crescimento da demanda de doações de comidas e de roupas e cobertores, muitos têm feito parcerias e outra ações. Nos próximos dias, para lidar com o frio, peças como casacos, meias e gorros e insumos para a preparação de sopas são os mais buscados.

Atuando desde os anos 1990 no Rio, a Agência Interagir e Renovar (Agir) hoje além de seu trabalho para assistir famílias, auxilia outras organizações principalmente por meio de ações integradas. Entre as parcerias está uma formada no ano passado, com a chegada da pandemia de Covid-19, pelos jovens do projeto de música Associação Prover, em São Cristóvão, a Toca de Assis, com atividades no Centro, para a doação de quentinhas. A Agir doa alimentos para até 300 refeições semanais.

— Os jovens da Associação Prover, projeto apoiado pela Agir, pensaram em como poderiam ajudar as pessoas em situação de rua. As mães deles se colocaram à disposição de fazer a comida. Como é preciso ter uma expertise para distribuir os alimentos e os franciscanos da Toca de Assis tinham dificuldade de preencher toda a semana, unimos os projetos. Diariamente fazem a comida. No tempo frio faz sopão para aquecer e doamos cobertores. Assim como água, que é uma carência enorme — contra André Fonseca, um dos fundadores da Agir.

Na previsão do Climatempo, a tendência é de queda na temperatura nos próximos dias, e a sensação térmica deve ser ainda menor em decorrência dos fortes ventos e da chuva, que deve perder força, mas segue até sábado. Apesar do frio rigoroso para o Rio, o órgão não prevê hoje novos recordes de mínima. A sexta-feira deve ter a manhã mais fria, com termômetros em torno dos 9 graus na capital. A tendência de queda acompanha todo o estado. Nesta quinta-feira, que deve ter máxima de 18 graus, pode ter a tarde mais fria do ano.

— A massa de ar polar tem origem nas áreas mais ao sul da América do Sul e vem subindo pela Argentina, está (na tarde desta quarta-feira) entre o Uruguai e o estado do Rio Grande do Sul e ela avança mais para o Sudeste. Para o Rio de Janeiro, ela diminui bem as temperaturas. Para amanhã (quinta-feira), a temperatura mínima fica 11 graus e máxima de 18 graus — diz a meteorologista Carine Gama, do Climatempo. — Entre a noite de quinta e a madrugada de sexta-feira, a temperatura cai ainda mais, com previsão de mínima de 9 graus na capital.

Segundo a Secretaria Municipal de Assistência Social, a principal ação durante o inverno é de tentar convencer as pessoas que estão vivendo nas ruas a serem encaminhadas a um dos abrigos municipais. Equipes de Assistência Social diariamente têm tentado promover o acolhimento e intensificaram a abordagem desde a última sexta-feira, de acordo com a secretária Laura Carneiro, à frente da pasta, com rondas em três turnos. Os três principais abrigos municipais – em Santa Cruz e Taquara, na Zona Oeste, e na Ilha do Governador, na Zona Norte – ganharam, juntos, cerca de cem vagas.

No momento, a organização é para levar as pessoas para os espaços de acolhimento, mesmo distantes de pontos de grande concentração, como o Centro. Caso as temperaturas caiam além do esperado, a secretaria planeja usar os espaços emergenciais para a época de chuvas, quando há riscos de enchentes.

— Para as chuvas a cidade se organiza no plano verão. Se eventualmente o frio for congelante, podemos usar os pontos de apoio como se usaria nas enchentes. Esse plano foi feito no início do ano. Cada lugar tem um ponto diferente. Mas a gente espera não chegar a isso — diz Laura Carneiro.

A secretária conta que tem havido aumento na adesão. Apenas nesta terça-feira, 24 pessoas aceitaram ir para um abrigo. O encaminhamento e o acolhimento não podem ser compulsórios, com a saída permitida a qualquer momento.

— Veio a ideia de alguns grupos de se criar um espaço específico para essas três noites. No município que não tem uma rede de acolhimento, é normal que se crie esse espaço, mas nós temos. Nós temos toda a estrutura montada. Como ninguém é obrigado, a pessoa pode ir, passar as noites e sair — diz a secretária.

Nesta quarta, a pasta confirmou que até sábado funcionarão 24 horas o CREAS Maria Lina de Castro Lima, no Flamengo, e no Centro Pop Bárbara Calazans, no Centro, para retirada de agasalho e, se quiser, ser levado a um dos abrigos.

Na terça-feira, a Campanha do Agasalho, da Prefeitura do Rio, entregou para moradores de seus abrigos uma tonelada de itens, como casacos, calças, meias, cachecóis, mantas e cobertores. A arrecadação foi através de doação da população carioca em pontos de coleta do sistema BRT em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social.

Grupos de voluntários e ONGs têm se organizado para amenizar o frio de quem permanece nas ruas. As sopas passam a ser a principal opção entre as quentinhas, e além das filas para alimentos, também as para cobertores e roupas mais quentes.

O Movimento Onda do Bem foi formado por voluntários em março do ano passado com o intuito de doar quentinhas para a população em situação de rua ainda no início da pandemia. A adesão de participantes e o visível aumento no número de pessoas sem ter onde morar, motivaram o grupo a continuar, com distribuições em bairros de diferentes regiões da cidade.

Desde então, o perfil de ajuda também foi se diversificando devido à identificação de novas necessidades, como de cestas básicas para famílias e de kits de higiene. A parceria com outros grupos foi e é fundamental para dar continuidade ao projeto, destaca Carolina Perez, uma das fundadoras.

— Uma coisa muito comum e que foi lindo de ver é a amizade que fizemos com outros grupos que fazem o mesmo trabalho que o nosso. Então, um ajuda o outro. Um exemplo disso foi a troca que fizemos com um deles, o Galera do Bem, liderado pelas irmãs Aline Gallo e Liana Gallo: doamos cestas básicas e o grupo nos doou 20 kits de inverno, com cobertores, gorros, luvas e meias. Doamos, ainda, gêneros alimentícios para dois grupos de Bangu e Campo Grande que fizeram distribuição de refeições nesta semana.

O grupo aceita diretamente doações de alimentos para o preparo das quentinhas, embalagens e talheres descartáveis e itens (como roupas e de higiene). Também é possível contribuir com dinheiro, com a prestação de contas no perfil das redes sociais do projeto (@ondadobemrj). Para dar conta das distribuições, as ações são partilhadas com outros grupos, conta uma das fundadoras Olga Benário Vasconcelos:

— Nosso movimento também deu apoio para outros grupos, como o Compra Solidária, que entrega sopa ou canjica na região na Praça Cruz Vermelha, no Centro do Rio. Além disso, a Caravana Benedita Fernandes, ligada ao Centro Espírita Ibirajara, vai receber o kit inverno com cobertores, meias, gorros e luvas para a distribuição desta semana. A união faz a força entre os grupos para amenizar um pouco o sofrimento de quem mora na rua.

O RJ Alimenta, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, distribui semanalmente mais de 50 mil refeições (café da manhã, almoço e sopa à noite) para a população carente. O programa foi criado durante a pandemia e atualmente está em quatro pontos: no Centro do Rio, Nova Iguaçu, Magé e Campos dos Goytacazes.

Direcionado à população de rua, o Governo do Estado do Rio tem, através da Fundação Leão XIII, equipes da Marcha Pela Cidadania e Ordem, que tentam, por meio de abordagem direta convencer as pessoas a irem para um abrigo. Os espaços são das prefeituras e de ONGs parceiras, que mediante a disponibilidade de vagas, aceitam os encaminhados. As equipes priorizam indicar para locais próximos de onde as pessoas foram localizadas e para unidades especializadas caso sejam necessários tratamentos, como dependentes químicos.

As equipes multidisciplinares atuam diariamente. Neste período de frio, os trabalhos têm se intensificado para convencer o maior número de pessoas a deixarem as ruas, sendo este o principal foco. Nesta semana, até o momento, 45 aceitaram o acolhimento. Apenas na manhã desta quarta, segundo a Marcha, das 105 abordagens apenas 10 aceitaram o encaminhamento. Em ações como em parceria com o programa Segurança Presente para distribuição de cobertores na semana passada são pontuais.

— Mais do que dar cobertores, nós da Marcha buscamos o sim das pessoas atendidas, quando elas aceitam ser acolhidas é muito gratificante porque queremos garantir qualidade de vida para elas. O sim deles é um ato de amor — diz a superintendente da Marcha, Roberta Barreto.

Onde ajudar

Agir (Agência Interagir e Renovar)

O grupo recebe doações de alimentos, itens de higiene pessoal, roupas e cobertores e contribuições em dinheiro (dados bancários abaixo) a serem dadas às famílias assistidas que se encontram em situação de vulnerabilidade ou são repassadas a instituições parceiras. O contato pode ser feito pelo site ou pelas redes sociais.

Banco Bradesco (237) – Agência 1804

Conta Poupança 1003314-4

CNPJ 30.977.349/0001-49

Agência Interagir e Renovar

Chave PIX: CNPJ

Movimento Onda do Bem

O grupo recebe doação de insumos para preparar as refeições, alimentos para as cestas básicas, produtos de higiene pessoal, cobertores e agasalhos e dinheiro por meio de transferência. O contato para a entrega dos itens, a prestação de contas e a divulgação das ações está no Instagram (@ondadobemrj).

Prefeitura do Rio

Após distribuir 1 tonelada de peças de vestuário e cobertores, a Campanha do Agasalho terá agora suas caixa itinerantes colocadas nos dois prédios da Prefeitura do Rio, na Cidade Nova, para funcionários contribuírem. Os 14 CREAS da Assistência Social, espalhados pela cidade, receberão as doações da população do Rio. Entre os itens aceitos estão calças, casacos, cobertores, meias, sapatos e blusas.

Cruz Vermelha

A Campanha do Agasalho 2021 recebe agasalhos e cobertores, a serem doados a pessoas em situação de rua da capital e de outros municípios fluminenses. As peças também podem ser repassadas a moradores de comunidades carentes que encontram-se em vulnerabilidade social, crianças, idosos, pessoas com deficiência e refugiados atendidos pela instituição. Pessoas físicas e instituições podem entregar os itens na sede da Cruz Vermelha (Praça da Cruz Vermelha, 12, Centro). A campanha está prevista até 2 de setembro.

Santuário Cristo Redentor

A campanha social “Cristo Redentor, Eu Quero Doar”, do Santuário Cristo Redentor, já doou mais de 400 toneladas de alimentos e itens de higiene pessoal, proteção facial e limpeza, desde abril do ano passado. O projeto visa a atender a população em situação de vulnerabilidade social, com entregas semanais em municípios do estado do Rio, como a capital, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, São João de Meriti, Nilópolis, Belford Roxo, Nova Friburgo e Itaguaí. As contribuições podem ser entregues de doações diretamente na Paróquia São José da Lagoa (Avenida Borges de Medeiros, 2.735, Lagoa) ou em dinheiro através do site.

Rede Windsor

Até esta sexta-feira, dia 30, a Rede Windsor realiza a Campanha do Agasalho em suas unidades cariocas (na Barra da Tijuca, no Leme e no Flamengo) para arrecadação de peças para a estação a serem doadas aos moradores da comunidade Santa Marta, por meio da Escola de Artes do Spanta. Os hotéis são o ponto de entrega dos itens.

Shopping Metropolitano Barra

O shopping, em parceria com Instituto Syn, está com a campanha “Doe Abraços Quentinhos”, até o dia 8 de agosto, para arrecadar casacos, roupas, calçados e brinquedos. As doações serão entregues à Associação Semente da Vida da Cidade de Deus (ASVI), para famílias da comunidade. Os itens são recebidos, em horário de funcionamento do shopping, no Espaço Cliente e, devido à pandemia, preferencialmente devem estar embalados em sacos plásticos.

Sobre a laura Carneiro

Laura Carneiro é advogada formada pela UERJ, aos 22 anos. Coautora do Estatuto do Idoso, autora de milhares de proposições e de leis de defesa da mulher, da criança e do adolescente. Foi vereadora pela primeira vez aos 25 anos e está em seu quarto mandato. Também já foi deputada federal quatro vezes. Neste quinto mandato, já foram sancionadas quatro leis de sua autoria. Entre 1º de janeiro de 2021 e 31 de março de 2022, foi secretária municipal de Assistência Social pela segunda vez, quando criou a primeira política pública de combate à fome na cidade do Rio, o programa Prato Feito Carioca.

Últimas Noticias

Siga-nos

Laura Carneiro no YouTube

Assine a nossa newsletter